Ainda sem data para iniciar sua produção, discute-se nos bastidores de Hollywood a continuidade do filme Avatar, de James Cameron. Não se sabe muito, mas as poucas informações que surgem é que o filme será ainda mais fascinante que o primeiro: maior aperfeiçoamento técnico e uma beleza ainda mais tocante. Mas, diferente do primeiro, em que pudemos conhecer a vida simples porém repleta de harmonia, amor e solidariedade dos índios Na'vi com a natureza de Pandora e sua vitória sobre os invasores, a continuação terá um final mais trágico: os humanos - representados por uma grande compania norte-americana e seus mercenários - voltarão ao planeta em busca do mineral Unobtanium muito mais armados e dispostos a destruir de forma definitiva os nativos e sua ecologia. Será que conseguirão?
Certamente isso tudo não é verdadeiro. Que eu saiba, ainda não se discute em lugar nenhum a continuidade de Avatar. Mas se Pandora fosse um planeta real, certamente seria isto que ocorreria: os americanos voltariam para defender seus interesses econômicos, mesmo que isso significasse a perda de milhares de vidas e a destruição da natureza. A ganância humana, com o poder de suas armas, não encontra limites para a exploração. Na época da saga, do que pudemos compreender, a Terra já está desolada. Seria natural pensar que a invasão, mais devastadora e cruel, se faria novamente. Afinal, para que servem as matas senão para explorá-las?
Não aconteceu assim na película de Cameron, um filme sem dúvida anti-imperialista, onde, por incrível que possa parecer, o vilão é o norte-americano, e o herói, um ex-fuzileiro que descobre a aventura e o amor em terras estrangeiras e acaba “traindo” sua pátria, mas não sua consciência. Entender a existência desse filme só é possível se compreendemos que algo passa no senso comum estado-unidense. Em muito, o atoleiro no Iraque e também no Afeganistão contribuíram para isso. Assim como também a crise econômica e a eleição do primeiro negro para presidente dos EUA - mesmo que a esperança esteja se esvaindo.
O filme nos faz torcer pela vitória dos indígenas e de seu líder, Jake Sully (Sam Worthington) e leva a platéia ao êxtase no final. Vivemos o drama daquele povo. Poderia ser qualquer um sob o jugo imperialista, mas também poderia ser uma releitura da conquista da América, ou a História que o espectador eleger. Mas o certo é que a beleza estética e da mensagem nos faz pensar sobre o mundo atual e, certamente, é um forte grito de liberdade, de mostrar que vale a pena lutar, mesmo quando a batalha parece perdida. Mesmo que sejam flechas contra tanques e aviões.
O que isto tem haver com o Haiti? Talvez tudo, talvez nada. Cada um pode fazer a leitura que quiser. Mas certamente tem com o mundo do cinema. Onde, felizmente, podemos ter um final feliz. Oxalá Pandora siga existindo tal como é, senão no mundo real, pelo menos em nossas fantasias.