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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O país mais pobre das Américas

Essa sentença é usada frequentemente por todo mundo – inclusive eu – para definir o Haiti. O país mais pobre das Américas. A afirmação é certa ao definir a situação de extrema miséria e devastação natural a que nosso irmão caribenho está submetido graças aos anos de invasão e ocupação estrangeira, ditaduras, golpes de estado e cumprimento de interesses econômicos exteriores e fracassados ao longo de sua história.

Mas a afirmação, sem dúvida pejorativa, só revela parte da verdade. O Haiti é também um dos países mais ricos do continente americano. Em recursos humanos e tradições culturais. Isso, só quem teve a oportunidade de ter algum tipo de contato com a ilha com um olhar que não o de pena é capaz de perceber. Alguns haitianos com quem conversei de alguma forma já tinham me alertado desse fato, mas só consegui compreender isso em toda sua essência lendo a obra de David Nicholls, historiador britânico especialista em Haiti.

Digo tudo isso sob risco de ser atacado por todos os lados: da esquerda ou da direita. Da esquerda que acha que não é possível lutar por algo novo que não seja exagerando e adjetivando os malefícios do capital. Da direita que se usa do sentimento de pena para canalizar para o assistencialismo – gerando um mercado milionário – absolvendo o sistema e aliviando consciências. Mas independente disso, creio que se precisa fazer justiça. Afinal, o que encanta as pessoas que vão ao Haiti? Mais: que outro povo conserva suas tradições culturais, língua, religião, mesmo estando longe de seu país?

Talvez seja essa a grande unidade Brasil-Haiti: todos somos brasileiros – mesmo sem saber o que exatamente significa isso já que moramos num “continente” com inúmeras peculiaridades em cada canto – mesmo estando longe de casa. Eles, são todos haitianos. Apesar da miséria econômica, continuam reivindicando seu país e sua identidade. Mas, diferente do Brasil, o que levou esses caribenhos a abandonar sua terra natal não foi somente a tentativa de melhorar economicamente: durante os 29 anos da ditadura dos Duvalier (François e Jean-Claude, pai e filho) quase meio milhão de pessoas fugiram da ilha, da repressão, da morte, da tortura e da pobreza. Poderiam ter tido orgulho de esconder sua origem, mas tiveram justamente o inverso: a grandeza de preservar sua cultura e acreditar que todas as mazelas – ou barbárie como preferem alguns – podem ser superadas e resolvidas, desde que não se esqueça de quem são.

Não conhecemos – porque raramente chega até nós -, mas a produção literária, artística, musical e cinematográfica haitiana é muito grande, produzida na ilha ou fora dela. Para quem se interessa, vai uma dica no caso do cinema: www.belfim.com

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