Páginas

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Novo tremor... Devaneios

Não consigo dormir. Durante as poucas horas em que estava dormindo, sonhei de todas as formas possíveis com o Haiti. Memórias de infância misturadas com cenas do Haiti, pessoas que batiam a porta que pareciam haitianos pedindo ajuda... em todos sonhos, era real: eu estava lá. O último, que me despertou foi o pior: estava numa escola (criação entre as várias que conheci) no coração de Porto Príncipe, momentos antes do terremoto.

Começou com uma briga. Pedradas que alguns alunos atiravam contra outras pessoas. Logo um medo se apossou dos professores, dos transeuntes e da juventude que estava por ali. Seria a ação de alguns garotos inconseqüentes? Será que a polícia viria? Será que haveria briga e todos seriam presos? Um jovem em idade escolar, se refugiou ao me lado na escadaria da escola, que, através do seu vidro imenso, permitia ver toda a capital. Ele estava com medo da polícia. Não estudava, não tinha para onde ir e se viesse o pior, ele diria que era aluno da escola.

Parecia que estava tudo controlado, os garotos ou sumiram ou foram controlados por uns caras da polícia haitiana. E eu estava no terraço da escola. No último andar, de onde se avistava tudo. Não era, mas eu sabia que estava olhando para as ruas da capital, aquelas que vão subindo os morros, com seus prédios estranhos, novos mas com traços europeus. Vi o que para mim era o Hotel Cristophe, sede da ONU um pouco ao meu lado, um pouco distante. O medo e a angústia de todos era grande.

O sol brilhava muito forte, 30 graus do horizonte, deixando todos em silueta, tudo em tons pastéis. De repente todos falavam angustiados em creole. Eu ali, no centro do sonho, tudo girando ao meu redor e como numa câmera lenta pude perceber o desespero das pessoas segundos antes daquilo que elas não sabiam o que seria. Era uma parede. Muito fina, cristalina, transparente, feita de gelo. Como uma interferência de TV, vinda de não se sabe onde, em nossa direção. Como que causada pelo deslocamento de algo muito maior que tudo. Que as pessoas, que as brigas, que a escola. Algo mágico, algo assustador. Alarmes de carro começam a soar ao longe. Vários alarmes ao mesmo tempo. Eu e todos atônitos, olhando, tentando entender. O chão treme. Brum. Acordo.

Acordo com medo de abrir os olhos. Mas eles já estavam abertos. Tenho medo de olhar a escuridão ao meu redor. Olho para a frente e não vejo, mas sei que está ali. Uma visão assustadora que tive quando voltei do Haiti. Sei que está. Sinto ela aqui, ao meu lado, um pouco atrás, enquanto escrevo.

Acordei. Fui ao banheiro. E agora? Não quero dormir. Não quero sonhar. Vou para o computador. Não recebi emails, vejo as notícias? Na manchete: “Tremor de 4,7 graus volta a atingir o Haiti neste domingo”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário