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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A ocupação norte-americana no Haiti

Quem acompanha as tristes notícias que chegam do Haiti, além de se chocar com as imagens de dor, desespero, fome, sede e destruição deve ter se surpreendido com a imagem dos mariners estado-unidenses pousando de helicóptero em pleno gramado do Palácio do governo, também destruído pelo terremoto. Alívio? Vieram combater a desgraça? Ou seria a utilização do terremoto como forma de ocupar o Haiti, distante 400 milhas da Flórida e mais próximo a Cuba?
A opinião dos haitianos se divide, pelo que pudemos acompanhar pela imprensa. É natural que na hora do desespero, a chegada de homens com a aparência de quererem ajudar a reconstuir um país devastado pela tragédia natural seja bem vinda. Mas será que essa ação, sobretudo a tomada do Palácio Nacional tem realmente fins de ajuda humanitária e pacíficos?
Não podemos ter dúvida de que diante da fome e do desespero, o ser humano revela seus mais profundos instintos. A solidariedade, a passividade, o querer bem ao outro são relegados a um segundo plano, na intenção imediata de auto preservar-se mais como ser individual do que coletivo. Uma espécie de ensaio sobre a cegueira, escrito por José Saramago e eternizado nas telas por Fernando Meirelles, quando começa a ser cada um por si, e quem tem visão é rei. No Haiti devastado, o cada um por si é visto nos saques a destroços de supermercados, mesmo que corram o risco de cair sobre suas cabeças, e na violência, onde quem tem arma, é rei.
Por este motivo, é impensável garantir a distribuição de água, saúde e comida sem que haja tropas capazes de permitir e organiza-la. Mas no Haiti já existem tropas. A Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, MINUSTAH, chefiada pelo Brasil, está lá há seis anos. Não deveriam os americanos se submeter a ela, ou ao governo haitiano (sim o Haiti tem presidente)? Os americanos preferiram mandar mariners por conta própria e mostrar que pretendem que o Haiti, como de resto a América Latina seja seu quintal. Não podemos esquecer que foram os EUA, a França e o Canadá que tiraram do poder outro presidente, Jean-Bertrand Aristides, também eleito assim como o atual, René Preval.
A pergunta que deve vir a cabeça de qualquer um é: qual o interesse norte-americano no país mais pobre das Américas? Certamente não é o de cuidar de um povo alegre, espiritual, solidário. Então qual seria o interesse? Sabemos que não é de hoje. Uma das maiores construções que pude vislumbrar na capital Porto-Príncipe parecia um shopping center, com grossas paredes revestidas de mármore. Mas era a construção da nova embaixada dos EUA, à prova de atentados, blindada, e provavelmente resistente a terremotos também, ou seja, o interesse não é de hoje.
É difícil afirmar qual é o interesse, mas arrisco alguns: importância geo-política no Caribe e América Central, utilização de mão-de-obra baratíssima, controle de armas e drogas, e porque não arriscar em Petróleo? Sim. Parece que em Cuba tem reservas submarinas e não seria demais imaginar que o Haiti, disto 200 milhas da ilha de Fidel, tivesse também.
Diante deste quadro, vejo com muita apreensão a chegada das tropas americanas. Se fosse humanitário, que fizessem como Cuba, que enviou 300 médicos, ou como o Brasil que voluntariou outros tantos e ainda irá mandar 200 milhões de reais em kits médicos da FioCruz. Vejamos o que as cenas dos próximos capítulos mostrarão, mas tenho para mim uma coisa: o Haiti é dos haitianos e de mais ninguém.

3 comentários:

  1. Tem mais: e as crianças haitinianas adotadas por outros países? Serão escravizadas? Servirão para experiências científicas? Terão seus orgãos transplantados?
    É muito angustiante!!

    Dia

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  2. Será que os EUA estão interessados em retirar a base militar de guantamo de Cuba e colocar os integrantes da Al-Quaeda no Haiti?

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  3. Se o terremoto não foi causado pelos EUA. A ocupação é apenas a segunda fase da iniquidade !!!

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